UM MERGULHO NO UNIVERSO DAS ARTES DE HENRIQUE VIEIRA FILHO
Com telas ricas em cores e que exploram o mundo dos sonhos, lendas e mitos, Henrique Vieira Filho vem se firmando cada vez mais no cenário nacional das artes plásticas. Por isso, o SOCIETY RIO-SP resolveu bater um papo com o artista para saber mais sobre sua trajetória e a abertura da exposição “Wall”, que acontece nesta quinta-feira, 30, em São Paulo, com obras que retratam muros históricos e homenageiam ícones como Carl Jung e Roger Waters (mais detalhes aqui). Henrique dá detalhes também sobre a pocket exhibition que fará no rooftop do Hotel Pestana, no Rio, no próximo dia 4. Confira:
Por que uma exposição que retrata muros históricos e ícones como Freud e Roger Waters? Como surgiu a ideia?
HVF: Além de artista plástico, sou psicanalista, por isso, Freud e Jung (na verdade, mais Jung do que Freud…) sempre influenciarão minhas pinturas, que refletem muito o mundo dos sonhos, as lendas, os mitos e o que eles nos ensinam sobre nós mesmos.
Uma das teorias de Jung é sobre a sincronicidade, ou seja, aquelas “coincidências” em nossas vidas que parecem mais um “sinal” do universo para nós, do que mero acaso. Faz alguns meses, estava eu admirando grafites nos muros da cidade e me inspirei em reproduzir este cenário nas telas.
Ao pintar, tijolo por tijolo, a mente foi longe e lembrei do “The Wall”, de Pink Floyd, em especial, o filme e o show com o visual inovador, onde cada trauma do personagem Pink se transforma em mais um tijolo no muro, que tanto o protege, quanto o isola do mundo. Ou seja, uma metáfora psicanalítica de como lidamos com nossas emoções.
A partir daí, as “coincidências” (sincronicidades…) foram aumentando! A data previamente agendada para a exposição foi 30 de novembro, que é justamente o dia em que Roger Waters lançou “The Wall”! E mais: Pink Floyd completou 50 anos em 2017. E novembro é o mês em que ocorreu a histórica queda do Muro de Berlim! Foram somando tantas “coincidências” que logo vi que esta exposição era uma “conspiração do universo”: tinha que ser feita!
A inspiração foi ampliando e fiz questão de incluir algumas homenagens, incluindo nas telas algumas personalidades icônicas relacionadas ao tema, como o próprio Roger Waters, Salvador Dalí e até o Pedro Bial (que fez a cobertura da queda do Muro de Berlim..).
No próximo dia 4 você vai expor suas obras no Rio pela primeira vez. O que o público carioca pode esperar da mostra?
HVF: Na verdade, já participei de exposições coletivas no Rio e, faz alguns meses, fiz uma exposição “particular”, só para os íntimos, que reuni na suíte do Copacabana Palace, justamente para entregar em mãos algumas obras encomendadas. Eram retratos de pessoas muito queridas, que fiz questão de encontrar pessoalmente.
Já neste dia 4 de dezembro, a exposição é aberta ao público. Por sinal, alguns destes retratos foram gentilmente cedidos das coleções particulares especialmente para esta ocasião! Trata-se da pocket exhibition “Rio Diva”, no rooftop do Hotel Pestana, como parte integrante do evento da Revista Mais Influente, que conta também com outras grandes atrações.
Na pocket exhibition, o público poderá apreciar meu estilo de retratos de algumas das mais queridas divas cariocas! O próprio Rio de Janeiro está retratado, como cidade diva, na tela “Rio Wall”. Em minhas obras, inclusive as que retratam personalidades, busco transcender o realismo, incluindo a “alma”, em muitas cores, texturas e simbolismos.
Por que escolheu o Rio para fazer essa exibição?
HVF: Costumo ir ao Rio apenas a trabalho, até que, eu e minha esposa resolvemos descansar uns dias no Copacabana Palace e eis que, pela primeira vez, enxerguei o Rio com o coração… O charme, a elegância histórica e icônica do hotel me inspiraram. Ao mesmo tempo, matei saudades de pessoas que fazia anos não tinha contato maior e também iniciei novas amizades que, na verdade, parece mais um reencontro de almas. Me senti muito bem acolhido pelos cariocas. A minha forma de agradecer é pela arte! Eis a razão para a pocket exhibition “Rio Diva”.
Você, além de artista plástico, é terapeuta holístico, jornalista, ilustrador e designer. Como a paixão pelas artes começou?
HVF: Quando criança, admirava muito meu tio Ary, que era um grande desenhista, a quem buscava imitar. Tive uma infância problemática, muito tensa, a ponto de ter mãos trêmulas, que só firmavam quando eu desenhava, a “bico de pena”, em nanquim.
Até mesmo este lazer foi reprimido, na base do “não pode se sujar de tinta”… “não pode gastar papel”… “pare de perder tempo com isso”… Bom, já deve ter percebido porque me identifico com o personagem Pink, no The Wall: também coloquei muitos tijolos em meu muro emocional.
Já adulto, a retomada a arte foi inconsciente, sem eu me dar conta… Como terapeuta holístico e jornalista, escrevi incontáveis artigos e vários livros e sempre levei a sério o ditado que “uma imagem vale mais que mil palavras”. Então, sempre incluí ilustrações e fotografias, que eu mesmo fazia, pois não encontrava o que eu precisava em outros autores.
No meu processo criativo, costumo fotografar e aplicar pintura digital. Muitas pessoas que respeito como artistas elogiaram este meu lado “ilustrador”, a tal ponto de ser convidado a participar de um livro de arte em Paris e, de lá para cá, muitos outros convites vieram, muitas encomendas… Quando me dei conta, foram mais de 20 exposições, em 10 países distintos. As artes plásticas são o meu momento de vida e uma paixão assumida!
Onde você busca inspiração para fazer suas obras?
HVF: Tudo começa com uma boa conversa! É o meu lado terapeuta: todo mundo se “abre” comigo, sem nem perceber! A intimidade de cada pessoa é tão fascinante, seu momentos de vida são tão importantes, que minha mente já vai transformando em imagens mentais, em uma tela, em uma fotografia…
Posso retratar tanto um olhar, um sorriso, um “todo” da pessoa ou todo um cenário de acontecimentos, que ilustram a vida ou um instante dela que seja marcante. Ultimamente, as viagens também têm inspirado, pois “pinço” da natureza e até da paisagem urbana, cenas que me impactaram e as incluo nas telas. As personalidades que admiro também são fonte para minhas pinturas, onde presto homenagens, às vezes sutis, às vezes explícitas. E sempre o universo onírico, as imagens dos sonhos, das lendas, da mitologia, das tradições seculares, estarão presentes em minhas telas.
Nas últimas semanas, ganhou força o debate sobre os limites da arte e um possível renascimento da censura. Qual é a sua opinião? Acha saudável discussões como esta?
HVF: Debater, civilizadamente, é um bom caminho para solucionar divergências. Pena que não é isso que estamos vendo, pois radicais, a favor e contra, tomam todos os espaços na mídia, e a voz dos moderados (a grande maioria…) não tem vez.
Faz algumas décadas, uma pequena parcela de artistas optou pelo “afrontamento” como caminho de expressão, fazendo questão de chocar, de provocar, de gerar polêmicas… Com isso, ganharam enorme destaque na mídia e apoio de vários intelectuais, a tal ponto que passaram a ser confundidos como sinônimos de arte contemporânea. Isso é um equívoco, pois a imensa maioria dos artistas plásticos abraçam padrões estéticos de beleza e técnica e expressam sua arte sem “obrigatoriedade” de confrontar/afrontar a sociedade.
Sou contra a censura prévia das artes, e, ao mesmo tempo, lamento que boa parte da imprensa e dos críticos ignorem uma imensidade de novos talentos que atuam em vertentes que não priorizam o confronto como forma de atuação. Existe vida inteligente nas artes plásticas no Brasil, fora do pequeno grupo da “Geração 80”, que continua sendo tratado como sinônimo/exclusividade de arte em nosso país, nos meios de comunicação e curadorias. Felizmente, os apreciadores de arte contemporânea vem percebendo e abrindo um olhar mais amplo, passando a apreciar e valorizar os novos expoentes.
Conheça mais sobre o trabalho de Henrique Vieira Filho através do site http://www.hvfartes.com.br.